Flavia Lima, ombudsman da Folha, fala sobre o texto de Hélio Schwartsman em que ele diz torcer pela morte de Jair Bolsonaro:
Essa liberdade é louvável e precisa ser ampla. Helio Beltrão segue dizendo o que pensa, mas, para lembrar de outro exemplo, Anderson França, colunista polêmico que escrevia no site, durou menos de um ano no jornal. Qual é a regra?
Adoraria saber a regra. Lima poderia ter perguntado para os responsáveis pela escolha dos colunistas, mas talvez tenha evitado porque a resposta provavelmente seria vaga e desinteressante.
(Não resisto: Helio Beltrão pensa?)
De modo legítimo, a Folha busca audiência. Com os seus mais de mil comentários no site (um texto popular costuma ter entre cem e 300 comentários), a coluna a entrega. Mas briga entre famosos também dá cliques, sem que o saldo em termos de credibilidade seja significativo para o jornal.
O que ela quis dizer com “saldo [significativo] em termos de credibilidade”? Essa parte ficou ambígua. De qualquer maneira, para mim, noticiar briga irrelevante entre famosos diminui, sim, a credibilidade do veículo – mais do que qualquer texto ruim de Hélio Schwartsman.
Um outro aspecto é que a coluna aproxima as páginas do jornal do vale-tudo das redes sociais, universo em relação ao qual a Folha e toda a imprensa buscam se diferenciar.
Concordo. Quando a Folha deu espaço a Kim Kataguiri, no já longínquo 2016, escrevi:
Talvez leitores menos qualificados, que se “informam” loucamente pelo Facebook (onde também vociferam suas opiniões), tenham gostado da decisão da Folha. Faz sentido. A contratação de Kataguiri como colunista é um claro exemplo da contaminação do jornalismo pelas redes sociais. O “textão de Facebook” ganhou espaço como coluna de jornal.
[…]
Não sei bem quem ganha com essa baixaria toda. Mas certamente o jornalismo perde.