Ha-Joon Chang sobre o Brasil

Ha-Joon Chang, economista da Universidade de Cambridge, deu entrevista a El País. Alguns comentários:

Hoje, quando olhamos para os países ricos, em sua maioria, eles praticam o livre comércio. Por isso, é comum pensarmos que foi com esta receita que eles se desenvolveram. Mas, na realidade, eles se tornaram ricos usando o protecionismo e as empresas estatais. Foi só quando eles enriqueceram é que adotaram o livre comércio para si e também como uma imposição a outros Estados. […]

O que é incrível é que essa política [de austeridade] vem sendo usada várias vezes, como no Brasil nas décadas de 1980 e 1990, e nunca funcionou. Albert Einstein falava que a definição de loucura é fazer a mesma coisa várias vezes e esperar resultados diferentes.

O discurso de Chang dá a entender que o Brasil tenta enriquecer com políticas de livre comércio e austeridade – e esse seria o caminho errado. Mas o que o Brasil tenta fazer há décadas é justamente crescer “usando o protecionismo e as empresas estatais”. Sem austeridade. E não deu certo.

A citação a Einstein é muito irônica. O que o Brasil fez várias vezes, esperando resultados diferentes? Protecionismo. (E não há confirmação de que Einstein tenha dito tal frase.)

Ao contrário de outros países em desenvolvido [sic], o Brasil tem a habilidade de fazer as coisas acontecerem por meio da intervenção governamental. A Embraer, por exemplo, é uma empresa de economia mista. […]

A Embraer não é uma empresa de economia mista. (Talvez isso tenha sido um erro de tradução. Ou não.) E cresceu de fato apenas após ser privatizada.

O Governo de Dilma canalizou vários subsídios em alguns setores em particular. Mas isso só foi necessário por conta da política de alta taxa de juros, uma vez que as companhias brasileiras não conseguem competir no mercado global de outra forma. Não sei todos os detalhes. Mas sei que houve erros, corrupção. As metas governamentais também foram determinadas de forma equivocada… sempre privilegiando a estabilidade macroeconômica. Já o declínio da indústria não foi considerado um problema. Focou em ações como Bolsa Família, mas sem prestar atenção em dar um upgrade na economia. […]

Avaliação pra lá de estranha e confusa sobre o governo Dilma. De qualquer maneira, vale lembrar o que disse Chang em 2013:

O rumo da política econômica brasileira está no caminho certo e é normal que a combinação de juros mais baixos e câmbio mais desvalorizado leve algum tempo para produzir um ritmo de crescimento mais forte, disseram ontem o professor sul-coreano Ha-Joon Chang, da Universidade de Cambridge, no Reino Unido, e o ex-ministro Luiz Carlos Bresser Pereira. Para os dois economistas desenvolvimentistas, os juros e o câmbio estão hoje num nível mais favorável à indústria manufatureira, um segmento que os dois veem como fundamental para o desenvolvimento do país. […]

O professor de Cambridge também vê com bons olhos as medidas adotadas pelo governo Dilma Rousseff para estimular a indústria.


‘Journal of Political Economy’, 125

Founded in 1892, the prestigious Journal of Political Economy, published by the University of Chicago Press, turned 125 in 2017. The latest edition of the year includes a collection of commemorative essays entitled “The Past, Present and Future of Economics: A Celebration of the 125-Year Anniversary of the JPE and Chicago Economics”.

The introduction was written by John List, chairperson of the department of economics at the University of Chicago, and Harald Uhlig, head editor of the JPE.

We invited our senior colleagues at the department and several at Booth to contribute to this collection of essays. We asked them to contribute around 5 pages of final printed pages plus references, providing their own and possibly unique perspective on the various fields that we cover.

There was not much in terms of instructions. On purpose, this special section is intended as a kaleidoscope, as a colorful assembly of views and perspectives, with the authors each bringing their own perspective and personality to bear. Each was given a topic according to his or her specialty as a starting point, though quite a few chose to deviate from that, and that was welcome. […]

We asked that their contribution be about what the field has accomplished or about where the field might or should be going in the future. It is probably the nature of the beast that all chose a largely backward-looking perspective, providing an overview of how the field has developed over time and how the JPE helped this process along by publishing some of the key ideas and key contributions. But hop on board and start reading!

Lars Peter Hansen, Eugene Fama, Richard Thaler, Luigi Zingales, Robert Lucas, James Heckman, and Steven Levitt are some of the authors who chose to collaborate in the special edition. What a great team.

Access to the collection of essays is free.


‘Journal of Political Economy’, 125 anos

Criado em 1892, o prestigioso Journal of Political Economy, publicado pela University of Chicago Press, completou 125 anos em 2017. A última edição do ano inclui uma coleção de ensaios comemorativa, intitulada “The Past, Present, and Future of Economics: A Celebration of the 125-Year Anniversary of the JPE and of Chicago Economics”.

A introdução é de John List, chairperson do departamento de economia da Universidade de Chicago, e Harald Uhlig, head editor do JPE.

We invited our senior colleagues at the department and several at Booth to contribute to this collection of essays. We asked them to contribute around 5 pages of final printed pages plus references, providing their own and possibly unique perspective on the various fields that we cover.

There was not much in terms of instructions. On purpose, this special section is intended as a kaleidoscope, as a colorful assembly of views and perspectives, with the authors each bringing their own perspective and personality to bear. Each was given a topic according to his or her specialty as a starting point, though quite a few chose to deviate from that, and that was welcome. […]

We asked that their contribution be about what the field has accomplished or about where the field might or should be going in the future. It is probably the nature of the beast that all chose a largely backward-looking perspective, providing an overview of how the field has developed over time and how the JPE helped this process along by publishing some of the key ideas and key contributions. But hop on board and start reading!

Lars Peter Hansen, Eugene Fama, Richard Thaler, Luigi Zingales, Robert Lucas, James Heckman e Steven Levitt são alguns dos autores que toparam participar da edição especial. Um timaço.

O acesso à coleção de ensaios é gratuito.


Tyler Cowen on ‘Bloomberg View’

Interesting post by Tyler Cowen on Bloomberg View:

One of the most striking features of BV, from my personal point of view, is how many of the writers I was actively reading and following before they started with BV. […]

One day I woke up and realized these people write for Bloomberg View, or that people like them were going to, and then it occurred to me that maybe I should too. And there are still Bloomberg View writers I haven’t really discovered yet. (By the way, one reason all these people are so good is because of the consistently excellent editors.)

What is the common element behind all of these writers? I would say that Bloomberg View tends to hire reading-loving, eclectic polymaths, with both academic knowledge and real world experience, and whose views cannot always be predicted from their other, previous writings.

Over the last year, I think I would nominate Ross Douthat as The Best Columnist. But overall I think Bloomberg View has assembled the most talented and diverse group of opinion contributors out there, bar none.

On top of all that, BV is perhaps the least gated major opinion website.

The list of columnists for Bloomberg View is really admirable. It may be even possible to say that, within a certain scope, Bloomberg View alone is better than all of Brazil (i.e., considering all its news publications) when it comes to opinion writers.


Tyler Cowen sobre a ‘Bloomberg View’

Post interessante de Tyler Cowen sobre a Bloomberg View:

One of the most striking features of BV, from my personal point of view, is how many of the writers I was actively reading and following before they started with BV. […]

One day I woke up and realized these people write for Bloomberg View, or that people like them were going to, and then it occurred to me that maybe I should too. And there are still Bloomberg View writers I haven’t really discovered yet. (By the way, one reason all these people are so good is because of the consistently excellent editors.)

What is the common element behind all of these writers? I would say that Bloomberg View tends to hire reading-loving, eclectic polymaths, with both academic knowledge and real world experience, and whose views cannot always be predicted from their other, previous writings.

Over the last year, I think I would nominate Ross Douthat as The Best Columnist. But overall I think Bloomberg View has assembled the most talented and diverse group of opinion contributors out there, bar none.

On top of all that, BV is perhaps the least gated major opinion website.

A lista de colunistas da Bloomberg View é realmente admirável. Talvez seja até possível dizer que, dentro de um certo escopo, a Bloomberg View sozinha é melhor do que o Brasil inteiro (todos os veículos somados) em matéria de opinião.


Guia metodologicamente incorreto

Apenas recentemente tomei conhecimento da polêmica envolvendo a série Guia Politicamente Incorreto, do canal History.

RIO – Historiadores e escritores acusaram o canal History de incluir, sem o seu consentimento, trechos de entrevistas feitas com eles para o programa “Guia politicamente incorreto da História do Brasil”, cujo primeiro episódio foi ao ar neste sábado.

Lira Neto, Lilia Schwarcz e Laurentino Gomes afirmam ter sido entrevistados por uma produtora contratada pelo canal sem serem informados de que as declarações seriam utilizadas no programa em questão.

Lira Neto foi um dos que mais reclamaram publicamente sobre o ocorrido e chegou a abordar o assunto em sua coluna na Folha:

Estupefato, na semana passada, fiquei sabendo que minha fala seria incluída, de modo ardiloso, em uma série intitulada “Guia Politicamente Incorreto”, baseada nos livros do jornalista Leandro Narloch. Se tivesse sido informado disso previamente, não teria concedido a entrevista.

Considero tais livros um desserviço ao público jovem, alvo prioritário deles. São simplórios na argumentação, falaciosos na utilização das fontes, pródigos em promover estereótipos e sedimentar preconceitos contra minorias historicamente marginalizadas.

Imediatamente, tratei de exigir explicações dos responsáveis. Após apelar para o cinismo e tentar dizer que tudo não passara de um “mal-entendido”, o diretor foi desmascarado pelos fatos. Outros entrevistados, como as historiadoras Lilia Schwarcz, Isabel Lustosa e Mary Del Priore, assim como o jornalista Laurentino Gomes, revelaram que tinham sido vítimas da mesma armadilha. […]

O próprio Narloch sentiu-se compelido a vir a público, pelas redes sociais, para dizer que estava “frustrado” com a história. Afirmou não saber que havíamos sido enganados. Concordava com o pedido dos atingidos para que fossem retiradas as respectivas entrevistas do programa. Contudo, alegou, tudo havia sido feito em nome de promover “um debate elegante sobre temas delicados”.

Quem assistiu aos primeiros episódios constatou que não há elegância ou debate naquilo. A presença e o nome de pesquisadores sérios estão sendo utilizados, na edição, apenas para legitimar e corroborar uma narrativa tendenciosa, “politicamente incorreta”. Por si só, a palavra “guia”, do título, não deixa margem para dúvidas: sugere condução, viés, predefinição de rumo.

Reinaldo José Lopes, que já trabalhou com Leandro Narloch (autor do Guia Politicamente Incorreto da História do Brasil) e foi entrevistado para a série, falou sobre a polêmica em seu blog e em sua coluna (o trecho abaixo é retirado desta):

O problema central da série é que, embora a proposta declarada seja desmontar clichês e visões ideologicamente motivadas de figuras da nossa história, o que de fato ocorre é substituir um clichê por outro. […]

Como talvez o leitor saiba, dá para contar uma mentira imensa contando apenas verdades –ou pedacinhos dessas verdades.

Gostei especialmente dos textos de Lira Neto e José Lopes porque eles incluem boas críticas ao livro de Narloch e à série nele baseada.

O grande problema desse tipo de obra não são suas conclusões em si, mas a metodologia adotada para chegar a elas. O fato de a tese ser “politicamente incorreta” ou “politicamente correta” é o de menos. O importante é a qualidade da pesquisa – que, nesse tipo de trabalho, costuma ser muito baixa.

Não me refiro a livros de história escritos por não historiadores – afinal, não é necessário ser historiador para escrever bons livros de história. Minha crítica é direcionada a certas obras de não ficção simplistas e sensacionalistas, com título provocativo (e geralmente meio bobo). Uma estratégia comum de seus autores é defender teses polêmicas usando argumentação fraca, baseada em evidências ou interpretações de pouca relevância.

E Narloch “adora uma evidência anedótica – ou seja, ‘causos’, histórias individuais sobre uma situação específica”, diz José Lopes, antes de completar: “Causos são legais, mas quando a gente está falando de história, é preciso deixar muito claro se eles são representativos ou não.”

Para piorar, quando autores dessas obras são alvo de críticas, eles frequentemente tentam desqualificá-las sem rebater seus argumentos, como neste trecho:

A respeito das críticas de Lira Neto, Narloch afirmou à Folha que as considera personalistas e motivadas mais por divergência política do que pelas informações da série ou do livro.

Respostas assim deveriam deixar claro que o criticado se considera incapaz de responder devidamente aos argumentos da crítica. Infelizmente, não é isso o que ocorre.

Como já nos mostrou Paulo Maluf (entre tantos outros políticos), responder a uma crítica sem rebater seus argumentos é uma tática de retórica que funciona bem. E os fãs de autores como Narloch são mais uma amostra disso.


Para finalizar, um comentário sobre a cobertura da mídia. Uma leitura rápida das matérias sobre o caso pode dar a impressão de que se tratou de mais uma batalha em uma eterna guerra entre historiadores e jornalistas ou algo assim. Títulos usados pelos veículos contribuem para isso.

Mas, como é evidente, as reclamações não vieram apenas de historiadores. Lira Neto, Laurentino Gomes e Reinaldo José Lopes, entre outros, não são historiadores – e nem dizem ser; quem comete esse erro é a mídia.


Ricardo Coimbra:

"Startup Wars V", Ricardo Coimbra


Sebastián Piñera, economist

Sebastián Piñera, recently elected to the presidency of Chile (a position he held from 2010 to 2014), has a PhD in economics from Harvard. He has published articles in the Journal of Economic History, the Journal of Development Economics, and the Quarterly Journal of Economics, all of them top journals.

(Interesting: Google Scholar returns different results in searches for “Sebastian Pinera” and “ Sebastián Piñera”.)


Sebastián Piñera, economista

Sebastián Piñera, recém-eleito para a presidência do Chile (cargo que já ocupou de 2010 a 2014), é PhD em economia por Harvard. Publicou artigos no Journal of Economic History, no Journal of Development Economics e no Quarterly Journal of Economics, periódicos de primeira linha.

(Curiosidade: o Google Scholar gera resultados diferentes em pesquisas por “Sebastian Pinera” e “ Sebastián Piñera”.)