Marcos Lisboa, no Nexo:
Essa divergência sobre os meios mais eficazes para retomar o crescimento, no entanto, é frequentemente relatada como refletindo discordância sobre os objetivos da política econômica: alguns a favor da inclusão social; outros defendendo os interesses da elite em detrimento dos grupos mais vulneráveis. Esses relatos optam por não discutir a evidência e os argumentos, propondo apenas desqualificar aqueles de quem divergem.
Essa distorção do debate pode agradar à política, porém não colabora com o diagnóstico sobre a grave crise da nossa economia e a discussão sobre as melhores formas de superá-la.
A principal divergência entre os economistas não ocorre sobre os fins da política econômica, a retomada do crescimento e a ampliação dos ganhos sociais da última década, mas sim sobre os meios, os instrumentos de política econômica, mais eficazes para atingi-los. […]
O debate cuidadoso sobre a evidência disponível, que incorpore o resultado da pesquisa acadêmica internacional, embasada pela definição precisa dos temas em discussão e pela melhor estatística disponível, contribuiria para o enfrentamento dos difíceis desafios da nossa economia.
A retórica que desqualifica diagnósticos e propostas de política econômica, atribuindo-os a supostos interesses indevidos, apenas procura obstruir a discussão sobre os argumentos e a evidência. Nunca é demais lembrar que muitos dos que desqualificam o debate sobre o ajuste fiscal, associando-o a uma falta de preocupação com os problemas sociais, foram contrários à focalização das políticas sociais que resultou na criação do bolsa família. Na época, como agora, a opção pela retórica de ocasião.
Grifos meus.