Thomas Traumann, ex-ministro da Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República (governo Dilma), na Folha:
A presidente da República gosta do enfrentamento, a palavra usada por ela para definir as situações de conflito. Reside aí a sua principal diferença com construtores de consensos, como Lula e Fernando Henrique Cardoso.
É no antagonismo que Dilma acredita ter vivido seus momentos mais gloriosos no Palácio do Planalto –as respostas aos protestos de junho de 2013 e as eleições de 2014.
A estratégia presidencial para repetir no processo de impeachment as superações de crise do seu primeiro mandato foi escolher um campo de batalha (o exagero de se afastar, por conta de uma manobra contábil, um presidente eleito) e um adversário (o presidente da Câmara, Eduardo Cunha). Como uma madeleine, a operação é reconfortante, mas é só memória afetiva.
Na vida como ela é, o confronto em torno do impeachment não é jurídico. A denúncia das “pedaladas” só um pretexto. Também não é uma batalha de biografias, na qual Cunha perderia logo de início. A batalha do impeachment é sobre o Brasil de 2016, 2017 e 2018.
O destino de Dilma depende mais dela mesma do que da tabulação de votos no Congresso. É dela a responsabilidade de recuperar a confiança no país, abalada pelos rebaixamentos das notas das agências de classificação de risco.
Caso a presidente consiga convencer a sociedade de que é capaz de executar uma agenda de crescimento, controle da inflação e redução do desemprego, o impeachment se dissipa por si.
Caso não consiga, a ameaça de afastamento será uma tormenta hoje e por todo o mandato.
É justo? Não, mas, como a presidente Dilma gosta de repetir, a vida não é justa.